Colocando Linux no Domínio.

linuxEste Artigo tem como objetivo realizar o ingresso de uma máquina Linux em um domínio. Diferente do Windows, o Linux requer uma atenção especial quanto trata-se de integração em um ambiente corporativo. Isso porque ele exige alguns fatores que devem ser levados em consideração na hora de integrá-lo. Aqui tentaremos abordar todos os aspectos necessários para realizarmos este procedimento de forma profissional, trazendo ao final do artigo uma integração correta.

Para que este procedimento seja possível, iremos utilizar três serviços essenciais, os quais são:

Kerberos: É um protocolo de rede usado para autenticação de usuários e/ou serviços de rede, como o Active Directory. utilizando um sistema criptografado, permitindo comunicações seguras e identificadas em redes, fazendo uso de tickets (chaves criptografadas).

Winbind: O Winbind é um daemon usado pelo PAM, NSSWITCH, Samba e podendo ser usado por outros serviços de rede e/ou sistema, fazendo a interface entre o PDC e o computador cliente rodando o serviço Winbindd, permitindo que máquinas com o sistema GNU/Linux comuniquem-se com DC Active Directory.

Samba: É um serviço cuja principal função é disponibilizar recursos compartilhados em uma rede, tais como arquivos e impressoras, além de também ser utilizado como controlador de domínio.


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Sente necessidade de se aprofundar na administração de sistemas Linux? Que tal seguir minha dica! Assista a vídeo aula de apresentação.


CONSIDERAÇÕES

Vamos levar em consideração que você já possui um ambiente com um servidor de domínio Windows Server com o Active Directory, DNS e DHCP instalados e funcionando.

Veja a disposição dos servidores na rede para explicação do artigo:

Domínio → oliveira.com
Servidor controlador de domínio → 192.168.2.1 serverdc.oliveira.com
Servidor DHCP → 192.168.2.1
Servidor DNS primário → 192.168.2.1
Desktop cliente → cltvirtual (Distribuição: Debian 8.5 jessie)

Para editar os arquivos de configuração você pode escolher qual editor padrão deseja usar. Neste artigo iremos utilizar o editor “vi” como padrão.

OBS: Se você pretende utilizar o (Debian 9.x – Stretch) como padrão, veja o nosso artigo “Colocando Linux no Dominio – Debian 9“. Existe algumas diferenças em relação a configuração do Winbind.

Mas se está procurando como fazer isto em distribuições derivadas da Red Hat, como por exemplo o CentOS, acesse nosso artigo “Colocando Linux no Dominio – CentOS“. 😉


1) EDIÇÃO DO ARQUIVO /etc/hosts.

Em nossa máquina “cltvirtual” que pretendemos colocar no domínio, entre no arquivo /etc/hosts e adicione o complemento do domínio junto ao host da máquina cliente.

Opcional: Também adicione o endereço de ip do servidor controlador de domínio, este procedimento ajuda na resolução de nomes, pois já estamos setando diretamente quem será o controlador.

127.0.0.1 cltvirtual.oliveira.com cltvirtual localhost
192.168.2.1 serverdc.oliveira.com

Após realizarmos a alteração, execute o seguinte comando com parâmetro: “hostname -f“.  O resultado do comando irá mostrar o nome da máquina completo, junto com o domínio informado.


2) INSTALAÇÃO DE PACOTES NECESSÁRIOS.

apt-get install krb5-user krb5-config winbind samba samba-common smbclient cifs-utils libpam-krb5 libpam-winbind libnss-winbind ntp

Durante a instalação do “kerberos“, pode ser perguntado algo relacionado ao KDC, mas ignore e pressione ENTER. Trataremos deste assunto no decorrer do artigo.


3) SINCRONIZANDO DATA/HORA COM O CONTROLADOR DE DOMÍNIO.

Para que possamos ser autenticados pelo controlador de domínio é de primordial importância que estejamos sincronizados com a data e a hora do mesmo. No Linux é possível realizar este procedimento de forma automática, configurando um serviço de “NTP“.

Acesse o arquivo de configuração “/etc/ntp.conf” e nas linhas do arquivo onde o conteúdo começa com a palavra “server“, comente estas linhas com uma cerquilha#“, e adicione o conteúdo conforme ilustrado abaixo, salve e saia do arquivo.

#server 0.debian.pool.ntp.org iburst
#server 1.debian.pool.ntp.org iburst
#server 2.debian.pool.ntp.org iburst
#server 3.debian.pool.ntp.org iburst
#Controlador de Dominio
server 192.168.2.1
restrict 192.168.2.1

Realizar o restart do serviço “NTP“. Como estamos utilizando Debian 8, o mesmo já possui um novo sysinit chamado “systemD“, para que possamos restartar um serviço devemos utilizar o seguinte comando:

(Restarta o serviço)

systemctl restart ntp.service 

ou (Para e inicia o serviço)

systemctl stop ntp.service
systemctl start ntp.service

(Verifica status do serviço)

systemctl status ntp.service

Caso esteja utilizando versões anteriores do Debian, ou uma outra distribuição que esteja baseada em outro sysinit como por exemplo o “systemV” antecessor do “systemD“, utilize o seguinte comando:

(Reinicia o serviço)

/etc/init.d/ntp restart

ou (Para e inicia o serviço)

/etc/init.d/ntp stop
/etc/init.d/ntp start

Nota: Para sistemas que possuem outros sysinit’s como o Ubuntu que possue o “upstart“, consulte a página da distribuição para maiores esclarecimentos.


4) EDIÇÃO DO ARQUIVO “/etc/resolv.conf”.

No ambiente apresentado estamos considerando que a máquina cliente “cltvirtual” esta recebendo IP através de um serviço DHCP startado no servidor controlador de domínio “serverdc“. Caso não esteja utilizando o serviço DHCP, é possível setar os servidores de nomes “DNS” no arquivo “/etc/resolv.conf” conforme ilustrado abaixo.

# Generated by NetworkManager
search oliveira.com
nameserver 192.168.2.1

5) CONFIGURAÇÃO KERBEROS.

Para que o usuário consiga autenticar-se no controlador de domínio iremos utilizar um protocolo de autenticação de redes chamado kerberos. O controlador de domínio com o serviço de Active Directory instalado já possui por default um KDC (Controlador de domínio Kerberos) apto para autenticar este tipo de protocolo. Iremos então editar o arquivo “/etc/krb5.conf” e realizar as configurações conforme ilustrado abaixo. Salve e saia do arquivo.

[logging]
Default = FILE:/var/log/krb5.log

[libdefaults]
ticket_lifetime = 24000
clock-skew = 300
default_realm = OLIVEIRA.COM
dns_lookup_realm = true
dns_lookup_kdc = true

[realms]
OLIVEIRA.COM = {
kdc = serverdc.oliveira.com
default_domain = oliveira.com
admin_server = serverdc.oliveira.com
}

[domain_realm]
.oliveira.com = OLIVEIRA.COM
oliveira.com = OLIVEIRA.COM

[login]
krb4_convert = true
krb4_get_tickets = false

Depois de configurado o kerberos, precisamos testar a comunicação com o controlador de domínio. Para isto, utilizaremos o comando “kinit” seguido pelo parâmetro “Nome de usuário que esteja cadastrado no domínio“, conforma ilustrado abaixo.

kinit rafael

Será solicitado a senha de usuário, digite a senha e pressione “ENTER“.

Após realizar o comando e o mesmo não retornar nenhuma mensagem de erro, é possível verificar o “ticket kerberos” gerado através do comando “klist” conforme ilustrado abaixo.

klist

Mostrando como resultado:

Ticket cache: FILE:/tmp/krb5cc_10001_j3SWTA
Default principal: rafael@OLIVEIRA.COM
Valid starting Expires Service principal
31-01-2017 18:15:56 01-02-2017 00:55:49 krbtgt/OLIVEIRA.COM@OLIVEIRA.COM

6) CONFIGURANDO O SAMBA.

Também antes de ingressarmos a máquina cliente “cltvirtual” no domínio é necessário realizar algumas configurações preliminares no Samba. Neste artigo já estamos utilizando o Samba 4, alguns parâmetros estão sendo disponibilizados, mesmo que não sejam necessários para o artigo em questão. Estes padrões são úteis caso deseje compartilhar informações de sua máquina cliente, ou transforma-la em um servidor de arquivos. Faça uma copia de segurança do arquivo “/etc/samba/smb.conf” de sua máquina e crie um novo arquivo conforme conteúdo ilustrado abaixo.

[global]
workgroup = OLIVEIRA
server string = Maquina Cliente
netbios name = CLTVIRTUAL
realm = OLIVEIRA.COM
#veto files = /*.exe/*.bat/*.inf/*.pif/
#======================= Log do Samba ==========================.
log file = /var/log/samba/samba.log
os level = 2
preferred master = no
max log size = 50
debug level = 1
#=========== Otimização para melhora de desempenho =============.
read raw = yes # Permite leitura de arquivos grandes
write raw = yes # Permite Gravação de arquivos grandes
oplocks = yes # Armazena cache de arquivos no local de acesso.
max xmit = 65535 # Configura maior bloco de dados que o samba ira tentar gravar de vez.
getwd cache = yes # armazena em cache a caminho para o diretório corrente
# dead time = 15 # Default is 0
# A opção socket options: TCP_NODELAY faz com que o servidor envie pacotes para a rede, mantendo
# assim o tempo de resposta do servidor baixo. SO_RCVBUF=8192 e SO_SNDBUF=8192: oferece o reinicio
# para um valor de buffer mais alto que o do sistema operacional.
#socket options = SO_KEEPALIVE TCP_NODELAY SO_RCVBUF=8192 SO_SNDBUF=8192
socket options = SO_KEEPALIVE TCP_NODELAY
#======================= Autenticação ==========================.
security = ads
encrypt passwords = yes
allow trusted domains = yes
#=================== Configuração WINBIND ======================.
winbind uid = 10000-20000
winbind gid = 10000-20000
winbind enum users = yes
winbind enum groups = yes
winbind use default domain = yes
winbind refresh tickets = yes
template shell = /bin/bash
template homedir = /home/%D/%U
client use spnego = yes
domain master = no

Após configurado o arquivo “smb.conf“, reinicie o serviço do Samba e do Winbind.

OBS: Iremos utilizar o padrão “systemD” conforme ilustrado no item 3 deste artigo.

(Restarta o serviço)

systemctl restart winbind.service
systemctl restart smbd.service

ou (Para e inicia o serviço)

systemctl stop winbind.service
systemctl start winbind.service
systemctl stop smbd.service
systemctl start smbd.service

(Verifica status do serviço)

systemctl status winbind.service
systemctl status smbd.service

7) INGRESSANDO A MÁQUINA CLIENTE NO DOMÍNIO.

Agora que nossas configurações estão corretas, podemos ingressar a máquina no domínio conforme o seguinte comando a seguir.

net ads join -U administrador

Nota: A conta passada para este comando precisa ter poderes de ingressar máquinas no domínio. Em nosso exemplo, foi utilizado a conta “administrador” do domínio.

Após executar o arquivo será retornado uma informação parecida com a ilustrada abaixo.

Using short domain name - OLIVEIRA
Joined 'CLTVIRTUAL' to realm 'OLIVEIRA.COM'

Agora vamos testar se o controlador de domínio está respondendo. Utilizando os seguintes comandos:

net ads testjoin

Se tudo correr bem o sistema responderá:

Join is OK

Também vamos testar utilizando o seguinte comando:

wbinfo -t

Se tudo correr bem o sistema responderá:

checking the trust secret for domain CART1OFICIO via RPC calls succeeded

Feito isto, precisamos testar e verificar se já conseguimos buscar os grupos e usuários do controlador de domínio conforme o seguinte comando a seguir:

(Lista de usuários do domínio)

wbinfo -u

(Lista de grupos do domínio)

wbinfo -g

Nota: Caso não seja possível trazer alguma das duas listas informadas, reinicie o “winbind” novamente. Se mesmo assim não conseguir executar os comandos com sucesso, volte o artigo e analise os passos anteriores refazendo a configuração, provavelmente algo passou despercebido.

Também é possível utilizar outros dois comandos para realizar a verificação, mas a diferença é que trazem a informação dos usuários e grupos locais, seguidos dos usuários e grupos do domínio.

(Lista usuários Local/Domínio)

getent passwd

(Lista grupos Local/Domínio)

getent group

Caso queira retirar a máquina do domínio utilize o seguinte comando:

net ads leave -U administrador

8) EDIÇÃO DO ARQUIVO “/etc/nsswitch.conf”.

Como agora estamos trabalhando com usuários e grupos do domínio, precisamos informar ao sistema que desejamos trabalhar com o “winbind” para procurar nossas informações de login. Para isso, é necessário editar duas linhas no arquivo “/etc/nsswitch.conf“, conforme ilustrado abaixo.

7 passwd:         compat winbind
  8 group:          compat winbind

Após editar o arquivo, realize o restart do serviço “Winbind” e “Samba” conforme demonstrado no item “6” deste artigo.

Seu sistema já esta no domínio e apto para uso.


A) DETALHES DEBIAN.

Para as distribuições Debian é necessário realizar uma alteração no arquivo “/etc/pam.d/common-session“. Esta alteração faz o diretório home de cada usuário ser criado automaticamente no inicio de cada sessão após a autenticação do usuário, setando as permissões para os arquivos e diretórios com a “umask 0022” e obtendo do diretório “/etc/skel” seus sub-diretórios e arquivos padrões.

Após o linha que contém:

session required pam_unix.so

Inclua:

session required pam_mkhomedir.so umask=0022 skel=/etc/skel

Fonte: https://www.vivaolinux.com.br/artigo/Ingressar-desktop-GNU-Linux-no-dominio-Active-Directory-do-Windows-Server-2008?pagina=1


Conclusão

Neste artigo foi demostrado como colocar uma máquina baseada na distribuição Debian no domínio de forma correta.

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Att,

Rafael Oliveira
SysAdmin

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Sobre o Autor

Rafael Oliveira Maria - Linux

Rafael Oliveira

Bacharel em Sistemas de Informação, SysAdmin, Professor, Blogueiro e Entusiasta Linux.

Certificados:

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38 respostas

  1. Bom dia Rafael, tudo bem?
    Parabéns pelo material!

    Fiquei com uma dúvida…
    Em caso de ambiente Windows, por exemplo, com AD no Win Server, ao ingressar um computador linux no domínio, esse equipamento pegara as diretivas de GPO configurada? Por exemplo, restrição de acessao a USB ou internet?

    Abraços!

    1. Fala Matheus blz? Desculpa a demora em responder, mas vamos lá. Se tratando de Linux vc vai conseguir colocar no domínio mas as GPOs não serão aplicadas a ele, isso pq as GPOs são para máquinas com sistema operacional windows.

      1. Beleza Rafael, sem problemas!
        Entendi…Em um ambiente empresarial por exemplo, como eu faria essa mescla entre desktop Windows e Linux? Teria que existir um servidor Linux para gerenciar os tipos de permissões de usuários?
        Mais uma vez obrigado! Abraços.

        1. O que vc pode fazer e criar um script para ser executado na inicialização do Linux, e nesse script realizar os bloqueios pertinentes que vc deseja. Mas hoje o comum no meio empresarial e desktops windows e servidores Linux, isso porque você aproveita a familiaridade do usuário com sistema operacional e a segurança do Linux para os servidores. Todos os ambientes que trabalho hoje são assim, outro fator relevante também e que muitas empresas possuem sistemas que rodam somente em windows inviabilizando a utilização do Linux como desktop.

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